quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Afinal, são coisas do coração...


E a ingenuidade permanece...

É perene.

Pobre ingênuo que do alto de sua intelectualidade analítica não consegue perceber comportamentos simples e evidentes. Singelos e tocantes. Logo ele que costuma ser tão atento aos detalhes e supervalorizar essas espertezas da vida, agora sequer pode ver em que estado se encontra.

Vê sim outra condição sua, pensa que é a única, e que inexistem situações simultâneas que podem tocá-lo, afetá-lo; quando na verdade é sim afetado, de um modo que ele não entende bem, isso porque não sabe do processo de afetação... Afinal, são coisas do coração, e a razão nem sempre dá a liberdade necessária para o sentimento.

Às vezes, o sentimento também não se permite livre. Pelo menos não livre absolutamente: é o gozo de uma liberdade outra que de tão intensa que é ofusca os olhos com o manto da ingenuidade.

Resta saber qual a melhor opção: ser livre perspicaz ou ingenuamente? Livre a partir de uma nova inocência?

Ele não sabe. Decidir demanda um processo de reflexão, algo perto do que ele considera razão.
Isso, contudo, é insuficiente: Afinal, são coisas do coração...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sempre há possibilidade de escolha à lógica estabelecida, é a lição deixada pelo Holocausto


"A importância atual do Holocausto está na lição que ele traz para toda a humanidade.

A lição do Holocausto é a facilidade com que a maioria das pessoas, colocadas numa situação em que não existe boa escolha ou que a torna muito cara, arranja uma justificativa para escapar ao dever moral (...) adotando em vez disso os preceitos do interesse racional e da autopreservação (...) O mal pode fazer o trabalho sujo, apostando que a maioria das pessoas a maior parte do tempo evita fazer  coisas imprudentes e temerárias – como resistir ao mal, por exemplo.

E há uma outra lição do Holocausto, de não menos importância. Se a primeira lição é um alerta, a segunda  é uma esperança...
Esta segunda lição nos diz que colocar a autopreservação acima do dever moral não é algo de modo nenhum predeterminado, inevitável e inelutável. Podemos ser pressionados a fazê-lo, mas não somos forçados a isso, de maneira que não se pode de fato jogar a responsabilidade da ação nos que pressionaram para tal.
Não importa quantas pessoas optaram pelo dever moral acima da racionalidade da autopreservação – o que realmente importa é que alguns fizeram essa opção. (...) O testemunho dos poucos que resistiram desmantela a autoridade lógica da autopreservação – ele revela afinal do que se trata: de uma escolha”.

Bauman – "Modernidade e Holocausto", p.236.

Postagem reproduzida a partir do texto/link "Sempre há possibilidade de escolha à lógica estabelecida, é a lição deixada pelo Holocausto" do Blog "Casa Warat".

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A liberdade amorosa (waratiana)




http://msocorrom.blogspot.com/2010/07/amor-respeito-e-liberdade.html

“De que hablamos cuando hablamos de libertad?(…) 

“La respuesta: hablamos de amor. (...)

La libertad es um acto de ternura que nos despoja de los vacíos, que cancela represiones y alivia el peso de las censuras; de tantas hipocresías y trivialidades disfarzadas de cosas importantes. (…) Libertad: tierra de sombras, adioses, Dolores, partos, encuentros; pero fundamentalmente: tierra de solidariedades."

(WARAT, Luis Alberto. Por quien cantan las sirenas: Informe sobre Eco-ciudadania, Género y Derecho – Incidências Del barroco em El pensamento jurídico. Florianópolis: UNOESC/CPGD-UFSC, 1996. p. 129.)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Revolução, por Félix Guatarri

Seria preciso tentarmos pensar um pouquinho o que quer dizer revolução. Esse termo já está tão estragado, tão desgastado, já se arrastou por tantos lugares, que seria preciso voltar a um mínimo de definição, ainda que elementar. Não tenho uma definição que eu me lembre de cor; não preparei conferência a respeito, senão eu teria uma no papel. Uma revolução, é algo da natureza de um processo, de uma mudança que faz com que não se volte mais para o mesmo ponto. O que aliás até contradiz o sentido do termo «revolução» empregado para designar o movimento de um astro em torno de outro. A revolução seria mais uma repetição que muda algo, uma repetição que produz o irreversível. Um processo que produz História, que nos tira da repetição das mesmas atitudes e das mesmas significações. Então, por definição, uma revolução não pode ser programada, pois aquilo que se programa é sempre do déja-la . As revoluções, assim como a História, sempre trazem surpresas. Por natureza, elas são sempre imprevisíveis. Isso em nada impede que se trabalhe pela revolução, desde que se entenda esse “trabalhar pela revolução”, como sendo trabalhar pelo imprevisível.

(GUATARRI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 185)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Pra manter ou mudar (a do piano)"


Poder-se-ia chamar esta canção (dos Móveis Coloniais de Acaju) de Intersubjetividade e Transformação...
                                                              
"Tudo que eu queria dizer
Alguém disse antes de mim
Tudo que eu queria enxergar
Já foi visto por alguém
Nada do que eu sei me diz quem eu sou
Nada do que eu sou de fato sou eu
Tudo que eu queria fazer
Alguém fez antes de mim
Tudo que eu queria inventar
Foi criado por alguém
Nada do que eu sou me diz o que sei
Nada do que eu sei de fato é meu
Algo explodiu no infinito
Fez de migalhas
Um céu pontilhado em negrito
Um ponto meu mundo girou
Pra criar num minuto
Todas as coisas que são
Pra manter ou mudar
Sempre que eu tento acabar
Já desisto antes do fim
Sempre que eu tento entender
Nada explica muito bem
Sempre a explicação me diz o que sei:
Sempre que eu sei, alguém me ensinou
Algo explodiu no infinito
Fez de migalhas
Um céu pontilhado em negrito
Um ponto meu mundo girou
Pra criar num minuto
Todas as coisas que são
Pra manter ou mudar
Agora reinvento
E refaço a roda, fogo, vento
E retomo o dia, sono, beijo
E repenso o que já li
Redescubro um livro, som, silêncio,
Foguete, beija-flor no céu,
Carrossel, da boca um dente
Estrela cadente
Tudo que irá existir
Tem uma porção de mim
Tudo que parece ser eu
É um bocado de alguém
Tudo que eu sei me diz do que sou
Tudo que eu sou também será seu."

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O desfecho

Poema de Machado de Assis para o deleite dos Schopenhauerianos como eu ("viver é sofrer") e para os estudiosos da mitologia prometheica como o André Luan Domingues, com sua proposta ética pautada na alteridade e na ousadia humana de que, como ele costuma dizer, apesar do sofrimento decorrente dos atos de coragem, não devemos abandoná-la. Seja porque pela eternidade é o suplício, mas também o é a liberdade, fruto da luta pela iluminação dos homens quando roubamos o fogo de Zeus; ou ainda, porque se morrermos, como sugerido poeticamente por Machado, renasceremos com a proposta do novo homem, capaz de ser altérico.



Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
Uns cingidos de luz, outros ensangüentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a água em cima os olhos espantados.

Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.

Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplício e acabara o homem.



(ASSIS, Machado. O desfecho. In:  ______. Melhores Poemas. Seleção Alexei Bueno. São Paulo: Global, 2000. p. 77).

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A Chuva... ou pureza vital e incômodo aparente

Hoje acordei com aquele barulho que me fez dormir novamente.
Precisava trabalhar, e uma voz me dizia: "Sei que não quer levantar agora, mas vá em frente, tente!"
Ah a chuva! Como me causa sono. Oh, trabalho, tão bom e importante, mas tão cansativo. Fiquei então pensativo...
Depois de acordar, ideias malucas (beleza) me vieram à mente. E não naquela hora somente. A propósito, agora, de tão malucas que eram as ideias minhas - não sei se o pronome possessivo é apropriado, afinal foram espontâneas, independentes de manifestações volitivas de minha parte - esqueci-as várias. Sei apenas se tratar de certos delírios oníricos em plena chuva do dia.
Oh chuva, quão agradável és tu. (Uma rima neste momento poderia acabar com o modo cortês de escrever).
De ti perdi o medo, vendo gente chorando sozinha pelos (mesmos) cantos (de sempre), imóveis no lugar de onde deveriam há tempos ter saído.
Sempre um delírio musical anima o espírito e melhora o astral. Por tal razão é, que até uma velha canção, cheirando a churrasco, café e plantação vem à tona, sobretudo quando não se pode ver bem pelo parabrisa porque o mecanismo responsável pela limpeza não funciona como deveria, tornando a visibilidade distorcida.
Uma coisa hoje vi que via antes, mas não devaneava com mais afinco: a chuva é como o amor verdadeiro, atrapalham as atividades cotidianas e burocráticas, incomodam porquanto parecem limitar (ainda mais) a nossa liberdade, mas no fim das contas existem para purificar o ar, limpar e tornar o caminho de uma vida seca e árida mais vivenciável. A própria vida se torna mais viva - e que me perdoem os gramáticos mais rigorosos.
Em suma, é melhor ser pego pela chuva amorosa, sentir o desconforto do deslocamento do eixo pragmático da segurança e permanecer molhado de amor - a conotação sexual fica ao alvitre do leitor - , do que trilhar a mesma rota (suja) da secura sentimental, ou pior, quedar-se inerte num (diminuto e egoístico) universo sufocante pela liberdade do desamor e pelos grilhões das necessidades materiais.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Prosa poética na sala de espera

"A aflição de outrora torna-se angústia agora. Tranquilizo-me um instante, vejo-a, apesar de tudo, radiante. Queria fazer uma poesia; não consegui: que ironia. De qualquer modo precisava escrever: espero-te aqui fora, Sofia, nova razão do meu viver."




PS: Esta “prosa poética”, como decidi intitular, foi escrita quando minha querida Roseli estava na sala do pré-parto passando pelos procedimentos de preparo para dar a luz à Sofia, nossa linda filha. Nos dias anteriores lia eu a “Poética do Devaneio” de Bachelard e, no entanto não pude escrever uma poesia, por mais singela que fosse. Meu senso poético estava um tanto desequilibrado – se é que algum dia teve equilíbrio...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Devaneios (poéticos) sobre o (não) Direito lunar: nudez lunática e liberdade sideral


Aspirações a filósofo...
Feito um grande bibliófago 
ou um poeta sem recursos.

As regras sempre me deixaram perplexo
Prefiro olhar e ouvir a Lua,
que iluminando a noite de um mundo complexo
fala-me o que fazer, mas o faz sempre nua.

Despe-se das vestes do poder,
e a despeito do dragão que carrega
permanece bela no anoitecer,
travando com a escuridão a mais sublime guerra.


A nudez lunar, enquanto fenômeno fantástico
Faz-me um melhor homem, um filósofo, um poeta...
Talvez mais um lunático
De coração amoroso e mente aberta.

O segredo do engrandecimento, contou-me uma fada,
Em tom um tanto erotizado,
que a Lua por “aparecer no escuro”, mostra-se pelada,
Por isso, talvez, deixe-me hipnotizado.

A hipnose da liberdade:
Um lindo pensamento sartreano:
“só não posso deixar de ser livre”:
A lua escraviza libertando!!!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Aforismo poético (de hoje) para ontem

O Sol é belo, de si emana a luz,
e nos permite sobreviver.
A Lua faz resplandecer
o sentido da vida ao qual ela nos conduz.

Continua...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Hoje é dia de Roseli

Não é um alecrim dourado,
que nasceu no campo sem ser semeado.
Não é uma linda canção que agora soa clichê
É uma rosa bela, é você.

Não é só uma menina feliz,
é a mulher que eu sempre quis
para ser a mãe da minha filha
e transformar a vida numa maravilha.

Simbolizada não por um alecrim,
(o que deveras não seria ruim),
você é a rosa do meu jardim de alegria.
Seu nome é Roseli, e hoje é o seu dia.


PS: Parabéns, meu amor. Perdoe-me por não ter acordado literário bem no dia de seu aniversário, e o presente poético ter se tornado demasiado simplório diante do significado que você tem na minha vida. Entretanto não pude deixar de fazer um breve, incompleto e desregrado soneto, pois não me canso de dizer de diversas formas: TE AMO.
Ao ler o poema, senti-o meio infantil, mas nosso amor é meio assim mesmo, é verdadeiro, não consegue ser dissimulado. Além disso, é dotado de uma ternura que, paradoxalmente, constitui a sua própria fortaleza: quanto mais doce, mais gostoso - embora você prefira café sem açúcar (risos).
AMO-TE!!!

terça-feira, 10 de maio de 2011

"Talvez" - ou "Breno e um passeio solitário e coletivamente transformador"

Ontem, caminhando pelas ruas de sua cidade, Breno sentia que estava trafegando por um lugar diferente, desconhecido para ele. Na verdade ele sempre morou no mesmo lugar, e o trecho por ele percorrido era habitual.
Talvez o clima, talvez o pequeno número de pessoas, talvez a mudança pessoal que lhe rendeu uma nova visão. Enfim, são inúmeros os "talvezes"...
Outro talvez poderia se referir à leitura que recentemente havia feito da entrevista de Alain Badiou sobre o valor revolucionário do Amor. Temática que tanto o agrada.
Talvez, também, fosse a entrevista de Emmanuel Levinás, transmitida um dia antes de seu caminhar errante em um dia comum, que o tivesse tornado outro.
Talvez, todos os "talvezes" não sejam, "talvezes" quaisquer. Mas talvez o maior de todos os "talvezes" que se entrelaçam e brincam de realidade com Breno seja aquele que cultivou em seu coração a semente da esperança de um mundo melhor, pois Breno ratificou para si que o mundo ao seu redor pode ser mudado quando ele próprio se permitir ser transformado.
Um revolucionário sente que o é, por mais que seu sentimentos candentes tenham por algum motivo sido arrefecidos. E Breno, embora fantasma perambulante que é, sabe bem disso, e mesmo que passe despercebido aos olhos das pessoas, não o será no tocante aos corações destas. Ainda que elas jamais saibam da existência ou do nome de Breno. O valor revolucionário de Breno está para além dele, foge à sua individualidade, e faz de um fantasminha, um espírito melhor, em busca da luz que ilumina seus passos, dando -lhe nova visão e mostrando que os lugares de outrora são os mesmos, mas outros também, e "talvez".
Basta caminhar, acreditar e querer ser revolucionado pelo Amor. É impossível que tal fenômeno não se propague à coletividade, ainda que leve tempo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Coisas que eu (não) sei"

Um dia, conversando imaginariamente com Danni Carlos, a uma altura tal do diálogo, disse-me ela, em tom lírico: "coisas que eu sei". Ela se referia àquilo que falávamos, às coisas acerca das quais divagávamos - coisas da vida.
Eu não tive a mesma segurança dela. Há tempos até me portava meio presunçoso, confiante em minha sensibilidade sobre a vida e as pessoas. Hoje não. Não sei se emburreci ou se amadureci, ou ainda, se antes nada sabia e agora sei o que não sei. Só sei que me perdi, pois me encontro em um lugar que nunca vi, ou que pelo menos jamais tinha olhado atentamente, por mais que sempre fosse aqui.
Um novo olhar ou um novo lugar?
Sei lá.
São "Coisas que eu NÃO sei"!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fragmentos de subjetividade - ou (simplesmente) saudades...


Passado mais de um mês sem escrever nada no Blog, senti-me nostálgico, quase um saudosista, como se manter o meu amigo cibernético vivo não fosse uma realidade evidente, ou pelo menos provável - sequer possível, eu diria.

Por mais que pareça um exagero - e talvez o seja - a cada dia que deixava de acessar meu próprio endereço no mundo virtual, parecia que o sendeiro de meu "lar" (espaço da minha subjetividade) era apagado no mundo real.

Para ser mais exato, o caminho não se apagava, mas era tomado por folhagens e cipós que, não sendo destruídos pelo repetitivo vaivém da vida a mim mesmo, tornavam-no de acesso (retorno) mais difícil.

Por isso, uma necessidade inconsciente fez com que eu criasse (inconscientemente) novas trilhas, "carreirinhos" mesmo, em busca da subjetividade perdida. Perdida? agora sim exagerei! É que a subjetividade tem uma força que a impulsiona a se exteriorizar. Ser taciturno, ao invés de de desdizê-la, ratifica-a, pois se esconder é também seu modo de expressão.

Confesso que hoje reencontrei o que eu tomava por subjetividade depois de andar pela mesma estrada de outrora. Estava com saudades daquilo que sempre conheci, daquilo que cultivei, daquilo que fui e daquilo que, de certa forma, estou sendo. Mas tenho saudades também dos novos caminhos. Aliás descobri que a subjetividade não se encontra, não se permite encontrar: ela é o próprio trajeto.

Bem, quedo-me nostálgico já daquilo que serei a partir dos inúmeros caminhos, das inúmeras subjetividades rizomáticas que estão e que virão. Saudades de tudo do "labirinto subjetivo" que construí, mas saudades mesmo, para dizer com Renato Russo: de tudo o que eu ainda não vi...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um passeio ao léu entre pais e filhos: a prática pedagógica do novo – ou o ensino jurídico como um incidente de ternura

O presente post foi extraído do discurso aos mestres redigido e lido por mim na cerimônia de colação de grau, onde alertei os ouvintes da necessidade de não tomá-lo (o discurso) a partir da mera razão, mas apreendê-lo com o coração. Aqui, reitero o alerta...

Do Eu ao Outro e reciprocamente.
Dizendo isso, meu colega André Luan e Eu escrevíamos, durante a graduação, um artigo sobre educação e alteridade.
De algum modo sinto-me repetitivo. Paradoxal, até. Afinal, como defender no título do discurso a abertura para o novo na prática pedagógica e iniciá-lo (o discurso) com aquilo que é não-inusitado?
Ao que parece, a contradição em que me encontro e que me permito declarar-lhes, esconde um fundo pusilânime, pois me mostro em uma posição de segurança e conforto intelectuais caminhando pelos mesmos sendeiros.
Entretanto, devo-lhes dizer que não achei frase melhor para começar. Sinceramente, quando redigi este texto não me sentia muito criativo. Talvez um pouco literário, mas não criativo.
Ademais, enunciar-me com o “do Eu ao Outro e reciprocamente” não implica repetição, mas a ratificação de algo que, por mais que sempre seja dito da mesma forma, adquire um novo sentido a cada vez, visto que a relação proposta, que está para além da dialética e da própria analética (por que não?), é uma relação de afeto e, que, portanto, não pode jamais ser a mesma. Ela é em-si sempre nova, por isso nunca é, mas está-sendo. É a idéia de movimento exterioriza melhor aquilo que se dá em relação.
Então, falemos desta relação:
O professor no curso de Direito assume uma função um tanto quanto angustiante. Ao passo em que é indispensável para fazer inserir seus pupilos no mundo jurídico, ensinando acerca de categorias jurídicas e novos vocábulos, bem como o diálogo entre tais categorias; é igualmente prescindível, porquanto todos os acadêmicos, presume-se, são alfabetizados e, por conseguinte, capazes de entender a problemática do Direito, bastando, para tanto, algumas horas de leituras diárias da doutrina ou de um dicionário especializado que tente desvendar os signos que se apresentam ao iniciante.
Contudo, o fenômeno se torna mais emblemático quando, além de viver sob o jugo do inafastável binômio necessidade-prescindibilidade, o professor toma para si a obrigação de servir como instrumento de emancipação social. Em outras palavras, o educador, para ser honestamente assim chamado, precisa ser um revolucionário. Não digo um revolucionário que sai com bandeiras que servem para além de expressar um ideia também depredar. Falo da descoberta de territórios desconhecidos (Warat), da possibilidade de uma profunda revolução do desejo. Tal como Warat, penso em microrrevoluções desejantes, que poderiam configurar o que Guatarri chamaria de uma nova cartografia dos desejos.
É isso mesmo, o professor de Direito, que muitas vezes “encena seu amor vencido pela lei” precisa desconstruí-la. A lei que em determinados momentos liberta, também é meio de manipulação e opressão legitimadas pela mídia e pelo poder público. A mesma lei que defende a vida, mata e castra. Na academia, o culto à lei ainda é constante, e isso se dá não porque se ama a lei, mas porque ela dá poder: o poder de quem conhece. Em termos foucaultianos: o “saber-poder”.
A propósito, para prosseguir em nosso passeio, é preciso falar de algo paralelo a ele, talvez de alguém que caminha ao lado, mas que, transgredindo as leis da geometria, deixa de trafegar paralelamente e vem ao nosso encontro, diagonalizando-se ou perpendicularizando-se. Pois bem, o “algo paralelo” de que falava concerne a um fenômeno da vida como um todo, não é particularmente intrínseco à academia, mas nela se potencializa e, surpreendentemente, exterioriza com mais força, embora veladamente.
Falo agora das formas de relacionamento que a sociedade possui: de um lado aquela em que predomina o Amor e, de outro, aquela em que o poder se sobressai. Nas relações de poder pensa-se o mundo em termos de hierarquia, e esta pode se apresentar de infindáveis maneiras. Na sala de aula, a postura sobranceira, arrogante e antidemocrática do professor expressam bem isso.
Por sua vez, as relações de amor são pensadas a partir do ponto de vista da igualdade com o respeito às diferenças. Boaventura de Sousa Santos disse uma vez que “temos direito à igualdade sempre que a diferença nos inferioriza, mas temos direito à diferença toda vez que a igualdade nos descaracteriza.” Assim, não falamos em no respeito ao Outro por temor do poder que este possui, mas porque sentimos esta necessidade. Trata-se muito mais de uma questão de sensibilidade do que de uma razão racionalizante que se prende aos ditames do poder e a ele determina sejamos submetidos.
Em outros termos, o amor enquanto norteador inter-relacional exige o contato com o Outro em termos de igualdade. Para ser correto, sequer é necessário este pensamento, eis que pensar designa fenômenos da consciência, e o amor, ao contrário, está no campo do inconsciente. É tão evidente que pode estar escondido.
Na academia, assim como na vida social, costuma sair vitorioso o poder. Mas isso só ocorre quando há uma carência enorme. Explico melhor: a psicanálise, e antes a filosofia com Schopenhauer, já nos ensinaram que somos seres desejantes. E o somos porque somos carentes. Só se deseja algo que não se tem, ou que se tem em níveis insatisfatórios. Então, pela lógica capitalista individualista, ao invés de nos relacionarmos sincera e abertamente com os que nos rodeiam, edificamos muralhas que só nos permitem visualizar e sermos visualizados. E só.
Nosso orgulho não nos permite assumir essa condição de carência. Então, tentamos acumular e exteriorizar poder tanto quanto nos for permitido. Na realidade, este modo de se conduzir acoberta uma falta imensurável. Quanto maior o desejo de acúmulo e exteriorização de poder maior é a carência. Como dizia Jung, “que a sombra aumenta proporcionalmente com a luz é uma regra psicológica.”
Antes que eu esqueça, tenho que lhes dizer como vejo a interação educador-educando. Os preceptores são como pais, os acadêmicos, filhos. E às vezes a família se desentende. Aliás, uma intolerância (maldita) permeia essa relação frequentemente. É claro, temos uma tendência natural a exigir a perfeição daqueles que amamos: pais e filhos se amam e, via de consequência, idealizam-se mutuamente, em que pesem as reações, vez ou outra, soarem um tanto agressivas.
Mas nós, enquanto acadêmicos, precisamos também da reflexão como meio para a compreensão, pois os professores, assim como nós, são crianças, e a pergunta: o que queremos ser quando crescermos? Talvez tenha como resposta: “ser igual ao meu professor”. Daí dizer, com Renato Russo, que precisamos nos amar como se não houvesse amanhã. E cá entre nós: na verdade não há. Costumamos dizer que nossos professores não nos entendem, mas e nós: os entendemos?
Bem, já me alonguei o suficiente para que o discurso se tornasse enfadonho, ininteligível e cheio de vaivens. Por sinal enunciei aqui um discurso inconstante. Diria até: um discurso da impermanência. Não poderia ser diferente, posto que ele trata da educação como um processo fundante da nossa subjetividade, a qual é construída a partir de nossas escolhas e desejos (como dito por André Newmann, interpretado por Michel Melamed) , mas de nossas escolhas e desejos em relação às escolhas e desejos do Outro – destacaria aqui, com Guatarri e Levinás: o “entre-nós” pedagógico como espaço da subjetividade (enquanto processo de subjetivação).
Não é à toa que tal ocorre. O vir-a-ser dos signos e da sua concatenação segue a lógica do devir afetivo inerente à vida. Opera-se, então, a reciprocidade afetiva inaugural. Os educandos, enquanto Outro da relação voltam-se ao Eu docente. Assim, caros mestres, assevero-lhes: quem vos fala não é o preposto duma coletividade de formandos: quem vos fala, são os nossos corações.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Trecho da minha monografia

 Disponibilizo a vocês um trecho da monografia que redigi recentemente, intitulada: "Por um Direito da transgressão: fragmentos amorosos para um discurso jurídico revolucionário". Ressalto que não constam as notas de rodapé com esclarecimentos e referências, posto que a finalidade é apenas divulgar o conteúdo. 


TRANSGRESSÕES FINAIS: MANIFESTOS PARA UMA ECOLOGIA DOS  AFETOS – OU FRAGMENTOS (AUDACIOSOS) PARA UMA (AMOROSA) REVOLUÇÃO LIBERTÁRIA: COMEÇO QUE VIRA FIM QUE VIRA COMEÇO

“Desacreditada pela
opinião moderna, a
sentimentalidade do
amor deve ser assumida
pelo sujeito apaixonado
como uma forte
transgressão, que o
deixa sozinho e exposto;
por uma inversão de
valores, é pois essa
sentimentalidade que faz
hoje o obsceno do
amor.”
(Roland Barthes)


Como Deleuze e Guatarri, “é preciso começar pelo fim”. É preciso iniciar em devir. Também o é possível em Warat, que começa seu “O amor tomado pelo amor: crônica de uma paixão desmedida” pelo fim, que constitui, portanto, seu começo e que, em seguida, vira fim. O texto como devir. Ele nunca é, quando termina, inicia-se… Trata-se de um instante mágico da escrita, aliás, de instantes mágicos, no plural, porque plural é ele – o texto. Nunca é o mesmo. O Amor é assim, é efervescente, é candente, é incerto, é imprevisível… É tudo isso e muito mais: é tudo isso e o seu oposto. Isso porque também é terno, sublime, delicado, ingênuo, caritativo, um castrador para os sádicos. O Amor se permite trafegar pelos túneis poéticos do paradoxo. Não à toa que Camões disse uma vez que:

Amor é um fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Pode-se dizer que o soneto de Camões, para o Direito, mas, sobretudo para a vida, é um devir, um devir-poético. O devir, como dito em outro momento, é sempre minoritário.Como a perspectiva poética é costumeiramente deixada de lado, à margem – por isso: uma poesia marginal, porque transcende a esfera da
racionalidade prosaica, é de se enunciar que ela devém juridicamente. O Direito agora está em um devir-poesia, devir-música, devir-afetivo, devir-amoroso. Levanta-se, então, um fragmento de insurreição waratiana: o Direito e a vida reivindicam “um canto do ambíguo, do devir permanente.” Warat defende uma ecologia afetiva, consistente, entre outras coisas, numa prática psicopedagógica que “permita verbalizar o fantasma do amor como condição da autonomia, como condição do vir-a-ser de uma sociedade povoada de indivíduos que se tornem, como diz Guatarri, ‘a um só tempo solidários e cada vez mais diferentes’.”252 É dizer, que “a eficácia libertária de uma proposta ecológica depende de uma visão psicanalítica que possa cativar-nos para um devir de incertezas: o convite para a descoberta do
novo (…).”
Não obstante, tem-se uma erotização do texto, mais que isso, uma erotização do Direito e, por inequívoco, da vida. Em vão não é que se está a falar de ecologia dos afetos e de uma certa correspondência com o perfil transgressivo – apesar de, em princípio, o título destas transgressões finais ter sido criado sem um precedente
exato, uma inspiração específica da qual decorresse o seu nascimento. Luis Alberto Warat, certa vez assinalou amorosa e transgressivamente:


A ordem instituída e a regularidade são um princípio de morte instalado na vida. Para vencê-lo, devemos produzir um excesso, transtornando ao máximo a continuidade, isto é, erotizando o movimento regrado. Provocando o imprevisto. O erotismo é um excesso de imprevisibilidade. É a descontinuidade significando-se. (…). Enfim, o erotismo é um desejo de transgredir. Nesse ponto é que se dá em mim a fusão do erotismo e da marginalidade. É o território das significações, das perguntas e das respostas sem paradigmas, abertas ao infinito.

A propósito, discorrer sobre o Amor no Direito é um ato de transgressão. Transgride na medida em que contradiz os arrimos paradigmáticos (decadentes) da Ciência Jurídica (Moderna). Introduz os afetos no estudo, na construção teórica e, principalmente, na “pragmatização” jurídica de modo que não deixa, jamais, de lançar seu olhar ao Outro. Para agir subversivamente é preciso ter audácia. A audácia que desafia o ríspido, o frio, o cruel do Direito: a lei como premissa científica. Trata-se de compartilhar da mesma coragem de Warat e tomar para si “o dever de inscrever o amor e a emancipação no meio do poder.”
Falou-se aqui – e fala-se por aí – em libertação, em emancipação, em alteridade e compaixão – em uma palavra: revolução. No Direito não se pode mais assumir a postura de um filósofo sentado – contra quem foram lançados diatribes de Amor – ou de um jurista apático, agarrado à lei como que a um deus; transformando o que deveria ser tomado como parâmetro em mito. Recorrer à transgressão surreal, juntar o Direito à música: eis uma provocação surrealista. Opor a transgressão a todos os saberes, às normativizações, à pedagogia jurídica, à “pureza” no Direito, ao niilismo, ao pessimismo, ao conformismo. Enfim, transgredir a conservação do que foi imposto (demagogicamente) sob o argumento democrático, “(…) tomar parte na destruição de ideais ou de teorias obsoletas, ainda que isso deva perturbar algumas sonolências dogmáticas.”
Retomando a perspectiva surrealista é possível crer num Direito subversivo em relação à ordem quando esta é a da exclusão; do não-Amor; da renúncia e da castração amorosa. Subverter a si mesmo. Deve-se, então, transgredir para não sufocar os ideais do Amor. Mas em que sentido se está a falar em transgressão? Neste: Transgredir é transcender o limite do horizonte. É sobrepujar o encarceramento por ele produzido sem que se necessite comportar belicosamente. Trata-se de um ato de libertação. Libertar-se das grades e dos grilhões impostos pelo poder e aceitos docilmente – como?
Com efeito, falar de revolução é exigir a liberdade, é fazer valer o ideal democrático, é reconhecer que há algo de intrínseco, de profundo, de imprevisível, de humano na liberdade. “De que hablamos cuando hablamos de libertad? (…) “La respuesta: hablamos de amor.” Por isso é que revolucionar verdadeiramente
deve ter um fundamento amoroso, negando a cegueira produzida pela certeza e contemplando no “Amor, a única revolução verdadeira”
Escreveu-se aqui um texto sem um começo bem definido e se terminará de igual forma. Isso porque não se tem o fito de apresentar definições; ao contrário, a ideia é desconstruí-las, transgredindo-as amorosamente. Pautando-se pela ética da alteridade, pela compaixão, pela solidariedade ou por outro meio afetivo – pouco
importa. O essencial é o livramento (pluralista) de um monismo científico-normativo que castra os desejos humanos, seja qual for o caminho percorrido. No Amor não há “começo e fim”. Há um “sempre-começo”. Cosmopolítica e geograficamente pode-se dizer que (amorosamente) é possível sempre começar de qualquer ponto do mundo sem que nunca se encerre a trajetória romântica. O Amor no mundo como rizoma e a formação de uma ecologia dos afetos: assim é que a vida democrática será um vir-a-ser infinito, haverá um devir-amoroso; incerto, é verdade, porque é devir, mas ainda (e sempre) um devir.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mais "coisinhas" sobre a felicidade...

Tantas coisas tristes, tantas coisas alegres, tantas coisas... assim é a vida, assim é a felicidade e o Amor...

Outra vez comecei com a mesma frase. Sim, novamente não encontrei um pensamento de impacto para atrair a atenção do leitor ao novo post. Também não procurei muito. Pra ser sincero não procurei nada. Achei mais cômodo começar com uma frase já dita e estabelecer, ainda que arbitrariamente, uma ligação com outra postagem. Espero que dê certo.

Em nossas vidas "coisas" acontecem. Tais "acontecimentos de coisas" podem ser entendidos como fenômenos. Por vezes nos alegram, por vezes nos entristecem. [Aqui uma pausa é necessária: o texto ao que parece caminha em direção a uma "meninice" superficial tremenda. Aparenta digno de ser colocado em "Frases para o orkut" ou em "caderno de confidências" (lembra disso?).]

É... mas a vida é assim. Sendo bem franco, a felicidade se constitui disso. Ela é um fenômeno decorrente ou resultante do equilíbrio entre outras duas espécies de fenômenos: os alegres e os tristes.

Frequentemente felicidade e alegria são tomadas como termos permutáveis. Aliás, como fenômenos de tal estirpe. Trata-se de uma incorreção.

A alegria é um elemento, ou melhor, é um fenômeno causador de euforia e agitação.
A tristeza, por sua vez, é um fenômeno tipicamente introspectivo. Ao contrário da alegria, ela se fecha, ou faz com que aquele que a sente o faça.

Já a felicidade é algo bem diferente. Pode a um passo ser expansiva, escandalosa, mas a outro tímida e serena. Por felicidade entendo a equalização da tristeza e da alegria. Numa linguagem budista, tratar-se-ia do Caminho do Meio, isto é, a representação do equilíbrio.

Não é à toa que quando estamos muito alegres, até mesmo uma "unhazinha" encravada logo nos acomete com uma força tamanha que nos quedamos tristes. É uma vontade (inconsciente) nossa. Almejar a tristeza para alcançar a felicidade. Daí é que algumas pessoas dizem que nada na vida pode tomar um rumo e seguir sem paradas. Por óbvio, este vaivém frenético intrínseco à vida (aliás é com um vaivém desses que ela surge) é um fenômeno de fenômenos que preside as alternações alegria-tristeza ou oscilações de energia do eu-cósmico.

Portanto, é preciso entendermos a tristeza não como uma contradição para com a felicidade, mas, ao revés, entendê-la como um elemento inerente à esta. Contudo, uma advertência é plausível: não cultive a pusilanimidade fomentando para si a tristeza, deseje-a como um ensinamento e um ponto de equilíbrio, apenas. O que lhe digo é para buscar o equilíbrio, não para cair em desespero, posto que o adoecimento oriundo da forte tristeza só ocorre quando os limites da justa medida são ultrapassados. Como saber quando se chegou ao limite? Também não sei. Busco diuturnamente sabê-lo... A única coisa que sei, é que tudo o que acabei de dizer é verdade - para mim, ao menos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Tantas coisas tristes, tantas coisas alegres, tantas coisas... Assim é a vida, assim é a felicidade e o Amor...

Tantas coisas tristes, tantas coisas alegres, tantas coisas... Assim é a vida, assim é a felicidade e o Amor...

Tive que começar o texto com o título. Não achei nada melhor. Não me sinto muito criativo hoje, um pouco literário, mas não criativo.

Poderia falar de muitas coisas, muitas mesmo. Mas de que adiantaria? O post seria enorme e ninguém leria. Alias, hoje ninguém leu meu Blog, além de mim. É isso mesmo. Quando o acessei hoje e pesquisei suas estatísticas vi que nenhuma boa alma o havia encontrado ou por ele se interessado.

Coisas da vida. Uma das coisas tristes, diga-se, por oportuno. A vida é assim, acometida a todo instante por infortúnios.

As obrigações... ah, as obrigações. Como me corroem! Lançam-me contra meu próprio Eu libertário. Mas que é uma vida sem elas? Que é a liberdade sem elas? Talvez mais um florido obituário. Pouco importa. Se bem que muito importa...

Como posso querer a transgressão se não desejo a regra ou a obrigação? Cá entre nós: "elas são ruins, muito ruins." Porém, boas ou ruins, isso não importa mesmo. O que vale é perceber que os grilhões só oprimem para que possamos nos desvencilhar deles, e não nos tornemos escravos da nossa liberdade. É verdade!

Por falar nisso, a "verdade" é o quê? É a aparência aos olhos de quem vê. Pobre rima, diria até lamentável se no fundo não fosse amável.

Bem, acho que o título fala mais do que as palavras que o tentaram descrever, por isso é que um novo post se aproxima e grita antes mesmo de nascer. Felicidade!!! O que se falará depois é a mais pura verdade, pelo menos para mim. Simples assim...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Paráfrase à "Ode à alegria" - ou de como um transeunte se tornou indelével

Este pequeno conto foi inspirado em inúmeros fatos e informações, reais ou hipotéticos. Para que seja melhor  compreendido seria importante primeiramente assistir ao pequeno vídeo incluso; em seguida, fazer a leitura do conto e, ao final, apreciar um trecho da ode An die Freude ("À alegria"), escrita por Friedrich Schiller e utilizada por Ludwig van Beethoven em sua nona Sinfonia.




Um dia desses, Breno - aquele fantasminha que outrora estava em apuros - caminhava tranquilamente pelas ruas de sua pacata cidade quando encontrou um transeunte. Era um amigo seu.
Foi então que Breno o indagou:
- Caro Transeunte, como estás? - Breno sabia que há tempos seu amigo andava triste e taciturno.
- Estou, ou melhor, agora sou INDELÉVEL!!! Respondeu o amigo.
Feliz pela alegria estampada no rosto de Transeunte, Breno perguntou-lhe:
- Mas como foi possível isso, caro irmão?
Foi então que Transeunte Indelével repetiu a resposta que havia dado a um outro amigo:
- Simples! Apenas seja você mesmo, fazendo o certo e agindo de acordo com os preceitos da boa fé, de crença em Deus e nos outros. Nunca faça o mal, e ajude aquele que por ventura, tenha lhe feito o mal.
Breno não pôde esconder a alegria que agora o acometia e disse:
- Eu sabia que no tempo devido você mudaria de tom e, tomando a vida como uma sinfonia de Beethoven, entoaria algo mais prazeroso e alegre. A centelha divina hoje brota em seu coração e se mostra no brilho de seus olhos. Não tenho dúvidas de que você agora se irmana com seus iguais (e diferentes também). De braços dados com as pessoas e com o Amor, você conquistou o maior tesouro: o de ser o amigo de um amigo, aumentando sua rede de afetos. Tudo isso porque soube apreciar a humanidade do humano e aprendeu a ter calma...
O Transeunte Indelével gostara das palavras que agraciaram seus ouvidos, e decidira não dizer nada. Aliás, ouvir passara a ser uma importante ferramenta para compor e mudar o tom de suas músicas. Mais que Beethoven, ele contara com a audição para construir a sua própria Sinfonia.
- ...Digo-lhe, querido amigo, assim como o faço para todos que queiram ouvir:


Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!


Foi assim que Breno gritou aos quatro ventos, esperando salvar uma alma que passasse por perto, ainda que uma única alma e, então, rejubilar-se amorosamente com a vida e com Deus.


PS:


Letra da 9ª Sinfonia de Beethoven emalemão
Baixo
O Freunde, nicht diese Töne!
Sondern laßt uns angenehmere
anstimmen und freudenvollere.
Freude! Freude!
BaixoQuarteto e coro
Freude, schöner Götterfunken
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine Zauber binden wieder
Was die Mode streng geteilt;
Alle Menschen werden Brüder,
Wo dein sanfter Flügel weilt.
Wem der große Wurf gelungen,
Eines Freundes Freund zu sein;
Wer ein holdes Weib errungen,
Mische seinen Jubel ein!
Ja, wer auch nur eine Seele
Sein nennt auf dem Erdenrund!
Und wer's nie gekonnt, der stehle
Weinend sich aus diesem Bund!
Freude trinken alle Wesen
An den Brüsten der Natur;
Alle Guten, alle Bösen
Folgen ihrer Rosenspur.
Küsse gab sie uns und Reben,
Einen Freund, geprüft im Tod;
Wollust ward dem Wurm gegeben,
Und der Cherub steht vor Gott.
Tenor e coro
Froh, wie seine Sonnen fliegen
Durch des Himmels prächt'gen Plan,
Laufet, Brüder, eure Bahn,
Freudig, wie ein Held zum Siegen.
Coro
Seid umschlungen, Millionen!
Diesen Kuß der ganzen Welt!
Brüder, über'm Sternenzelt
Muß ein lieber Vater wohnen.
Ihr stürzt nieder, Millionen?
Ahnest du den Schöpfer, Welt?
Such' ihn über'm Sternenzelt!
Über Sternen muß er wohnen.

Letra da 9ª Sinfonia de Beethoven emportuguês
Baixo
Ó, amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!
BaixoQuarteto e coro
Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!
Tenor e coro
Alegremente, como seus sóis voem
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.
Coro
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!









sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Um diálogo de gerações: em busca da felicidade

Afoito, o jovem e bem sucedido empresário, que contava com uma conta bancária recheada de reais chegou até à uma casa onde eram vendidos produtos fitoterápicos e foi logo dizendo o que queria:
- Caro Sr., sei de sua fama e de sua competência. Sei também, que é uma pessoa extremamente feliz. Disso concluí que há algum mistério em sua vida que jamais foi revelado, e talvez a resposta resida justamente naquilo que mais sabe fazer...
O proprietário da residência, um Sr. de aproximadamente 88 anos e ascendência oriental ouvia as palavras do jovem enquanto regava seu quintal, tendo aparentado certa discordância em relação às mesmas em seu início, mas uma concordância ao final.
- Então... gostaria de comprar a planta, a fórmula ou seja lá o que for que o permite ser tão feliz - prosseguiu o jovem.
O ancião esboçou uma resposta mas foi interrompido:
- Antes quero esclarecer que estou disposto a recompensá-lo muito bem, entendeu? Muito bem pelo que tem a me receitar.
O velho não se conteve e deixou escapar um sorriso que mesclava certa sabedoria mas tinha um ar pueril, inocente. Em seguida disparou:
- Antes, rapaz, diga-me: qual é o valor da sua vida? Sem deixar qualquer resposta ser dada, continuou: - Quanto custa a vida de seus pais, de sua esposa, de seus filhos, de seus amigos?!
Ao que o jovem  replicou:
- Não há preço, Sr. Jamais poderia colocar preço em algo tão fundamental, a amizade, a família, o amor. Mas não é isso que pretendo comprar. Quero a felicidade. E reitero, pagarei uma soberba soma para tê-la.
Com toda a sua sapiência, o ancião, tendo coçado a sua grisalha barba por alguns segundos e refletido sobre o preparo do mancebo para o recebimento da resposta, asseverou:
- "VIVER FELIZ" é um pleonasmo!!! Nunca esqueça disso! Esta é a minha fórmula da felicidade, utilize-a como quiser. Mas ela só funcionará quando compreendê-la e aplicá-la com perfeição...
Pasmo, o jovem silenciou e dois minutos depois levantou-se em direção à saída. Não sem antes tropeçar (nas palavras):
- Que sabedoria... peça-me a quantia que desejar.
- Tsc tsc! - lamentou o velho. E prosseguiu:
- Dê-me um forte abraço, menino.
Sem entender bem, o "moleque" vestido com um terno caríssimo atendeu ao pedido e ouviu o sussurro do sábio:
- "Vá e viva!" Isso será o suficiente para o seu aprendizado...