quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O desfecho

Poema de Machado de Assis para o deleite dos Schopenhauerianos como eu ("viver é sofrer") e para os estudiosos da mitologia prometheica como o André Luan Domingues, com sua proposta ética pautada na alteridade e na ousadia humana de que, como ele costuma dizer, apesar do sofrimento decorrente dos atos de coragem, não devemos abandoná-la. Seja porque pela eternidade é o suplício, mas também o é a liberdade, fruto da luta pela iluminação dos homens quando roubamos o fogo de Zeus; ou ainda, porque se morrermos, como sugerido poeticamente por Machado, renasceremos com a proposta do novo homem, capaz de ser altérico.



Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
Uns cingidos de luz, outros ensangüentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a água em cima os olhos espantados.

Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.

Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplício e acabara o homem.



(ASSIS, Machado. O desfecho. In:  ______. Melhores Poemas. Seleção Alexei Bueno. São Paulo: Global, 2000. p. 77).

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