quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Afinal, são coisas do coração...


E a ingenuidade permanece...

É perene.

Pobre ingênuo que do alto de sua intelectualidade analítica não consegue perceber comportamentos simples e evidentes. Singelos e tocantes. Logo ele que costuma ser tão atento aos detalhes e supervalorizar essas espertezas da vida, agora sequer pode ver em que estado se encontra.

Vê sim outra condição sua, pensa que é a única, e que inexistem situações simultâneas que podem tocá-lo, afetá-lo; quando na verdade é sim afetado, de um modo que ele não entende bem, isso porque não sabe do processo de afetação... Afinal, são coisas do coração, e a razão nem sempre dá a liberdade necessária para o sentimento.

Às vezes, o sentimento também não se permite livre. Pelo menos não livre absolutamente: é o gozo de uma liberdade outra que de tão intensa que é ofusca os olhos com o manto da ingenuidade.

Resta saber qual a melhor opção: ser livre perspicaz ou ingenuamente? Livre a partir de uma nova inocência?

Ele não sabe. Decidir demanda um processo de reflexão, algo perto do que ele considera razão.
Isso, contudo, é insuficiente: Afinal, são coisas do coração...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sempre há possibilidade de escolha à lógica estabelecida, é a lição deixada pelo Holocausto


"A importância atual do Holocausto está na lição que ele traz para toda a humanidade.

A lição do Holocausto é a facilidade com que a maioria das pessoas, colocadas numa situação em que não existe boa escolha ou que a torna muito cara, arranja uma justificativa para escapar ao dever moral (...) adotando em vez disso os preceitos do interesse racional e da autopreservação (...) O mal pode fazer o trabalho sujo, apostando que a maioria das pessoas a maior parte do tempo evita fazer  coisas imprudentes e temerárias – como resistir ao mal, por exemplo.

E há uma outra lição do Holocausto, de não menos importância. Se a primeira lição é um alerta, a segunda  é uma esperança...
Esta segunda lição nos diz que colocar a autopreservação acima do dever moral não é algo de modo nenhum predeterminado, inevitável e inelutável. Podemos ser pressionados a fazê-lo, mas não somos forçados a isso, de maneira que não se pode de fato jogar a responsabilidade da ação nos que pressionaram para tal.
Não importa quantas pessoas optaram pelo dever moral acima da racionalidade da autopreservação – o que realmente importa é que alguns fizeram essa opção. (...) O testemunho dos poucos que resistiram desmantela a autoridade lógica da autopreservação – ele revela afinal do que se trata: de uma escolha”.

Bauman – "Modernidade e Holocausto", p.236.

Postagem reproduzida a partir do texto/link "Sempre há possibilidade de escolha à lógica estabelecida, é a lição deixada pelo Holocausto" do Blog "Casa Warat".