segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Pra manter ou mudar (a do piano)"


Poder-se-ia chamar esta canção (dos Móveis Coloniais de Acaju) de Intersubjetividade e Transformação...
                                                              
"Tudo que eu queria dizer
Alguém disse antes de mim
Tudo que eu queria enxergar
Já foi visto por alguém
Nada do que eu sei me diz quem eu sou
Nada do que eu sou de fato sou eu
Tudo que eu queria fazer
Alguém fez antes de mim
Tudo que eu queria inventar
Foi criado por alguém
Nada do que eu sou me diz o que sei
Nada do que eu sei de fato é meu
Algo explodiu no infinito
Fez de migalhas
Um céu pontilhado em negrito
Um ponto meu mundo girou
Pra criar num minuto
Todas as coisas que são
Pra manter ou mudar
Sempre que eu tento acabar
Já desisto antes do fim
Sempre que eu tento entender
Nada explica muito bem
Sempre a explicação me diz o que sei:
Sempre que eu sei, alguém me ensinou
Algo explodiu no infinito
Fez de migalhas
Um céu pontilhado em negrito
Um ponto meu mundo girou
Pra criar num minuto
Todas as coisas que são
Pra manter ou mudar
Agora reinvento
E refaço a roda, fogo, vento
E retomo o dia, sono, beijo
E repenso o que já li
Redescubro um livro, som, silêncio,
Foguete, beija-flor no céu,
Carrossel, da boca um dente
Estrela cadente
Tudo que irá existir
Tem uma porção de mim
Tudo que parece ser eu
É um bocado de alguém
Tudo que eu sei me diz do que sou
Tudo que eu sou também será seu."

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O desfecho

Poema de Machado de Assis para o deleite dos Schopenhauerianos como eu ("viver é sofrer") e para os estudiosos da mitologia prometheica como o André Luan Domingues, com sua proposta ética pautada na alteridade e na ousadia humana de que, como ele costuma dizer, apesar do sofrimento decorrente dos atos de coragem, não devemos abandoná-la. Seja porque pela eternidade é o suplício, mas também o é a liberdade, fruto da luta pela iluminação dos homens quando roubamos o fogo de Zeus; ou ainda, porque se morrermos, como sugerido poeticamente por Machado, renasceremos com a proposta do novo homem, capaz de ser altérico.



Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
Uns cingidos de luz, outros ensangüentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a água em cima os olhos espantados.

Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.

Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplício e acabara o homem.



(ASSIS, Machado. O desfecho. In:  ______. Melhores Poemas. Seleção Alexei Bueno. São Paulo: Global, 2000. p. 77).