Quando me contava, Breno deixara escapar que certo desinteresse pela história o acometia. Era perceptível até mesmo uma certa frieza de sua parte, já que considerava meio sem emoção, quase uma trivialidade disfarçada de história importante - parafraseando Warat.
Era uma tarde de um dia qualquer e Breno me contara que há alguns dias coisas esquisitas aconteceram. A primeira delas foi que sentiu uma baforada com fumaça de cigarro em seu rosto de fantasma quando estava prestes a dormir, encerrando suas orações noturnas. Ao abrir os olhos, deu de cara com o vazio. Nada estava à sua frente que fosse possível ver - pelo menos com os seus olhos. Não significa isso, dizia-me Breno, que ninguém estivesse ali, parado ao lado da cama.
Seu quarto é pequeno, e nenhum outro fantasma da espécie de Breno havia fumado naquele local, nem sequer próximo para que a fumaça chegasse até lá. A propósito, havia algum tempo que Breno estava na cama, e até então seu olfato não captara nenhum aroma desagradável qual era o produzido pelo tabaco.
Puxou o ar com força para detectar se era maluquice ou de fato o cheiro permanecia no ambiente: a segunda hipótese preponderou. Digo "preponderou" porquanto Breno olhava de modo aparentemente doentio do ponto de vista psíquico. Com os olhos esbugalhados, mas sem demonstrar medo, a história ia sendo contada.
Disse Breno que certamente era um fantasma de outra dimensão e que apesar de não poder vê-lo, sentiu a presença de alguém diante de si. Além do mais, uma certa movimentação no ar lhe convencia que não estava sozinho. Bastou prosseguir a sua oração, pedindo paz àquele fantasma (mais) debochado (do que Breno) para que o cheiro sumisse.
- Foi embora com o seu fantasma. Disse-me Breno.
Mas dias antes uma forte contração na altura dos ombros lhe atingia. Era uma tensão demasiado intensa que não era passível de eliminação pela prática de certos exercícios e alongamentos (físicos, é claro). Era necessário um exercício fantasmagórico ou espiritual no pleno sentido do termo. Ao que parece as orações e a compreensão dos problemas dos fantasmas que o rodeavam constituíram uma bela prática esportiva...
E assim a conversa ia terminando, não sem antes Breno deixar nas entrelinhas a possibilidade de uma continuação. Sutilmente levou às mãos aos ombros e movimentou a cabeça de um lado para o outro deixando transparecer que alguma dor ou tensão novamente lhe acometiam. Só falta agora as portas internas de seu trabalho abrirem sem que nenhum fantasma de mesma dimensão esteja por perto...
PS: (Talvez seja o último capítulo. "Talvez", pois Breno vive e é imortal: um fantasma imortal - no Amor; daí dizer que capítulos assim possam se repetir, ou nunca mesmo acabar)
diga ao Breno que as coisas acontecem apenas para os homens (espíritos) de fé, aqueles que se colocam na linha frente de batalha.
ResponderExcluirlegal a história, continue-a.
abraço
Pode deixar, caro irmão.
ResponderExcluirDirei isso a Breno. Ele ficará feliz e mais forte. O carinho que recebe o torna um "fantasminha" melhor, e sendo bom, fortalece-se.
Continuarei a história, sim. Na medida em que Breno for me contando eu trarei novidades.
Agradecido pelo comentário.