- "Oh amigos! Tenho observado fenômenos dignos de incredulidade..." - disse Zaratustra surpreso.
- "Daqui de cima vejo várias formigas rebeldes. Não querem ajudar umas às outras, sentem-se, pois, suficientemente potentes e aspiram à diferença.
É isso! Odeiam ser iguais. 'A igualdade é a maior das masmorras', dizem elas.
Daí que que se fecham tanto em suas profundas subjetividades que se afogam na superficialidade de suas máscaras. Fogem tanto para serem únicas, a despeito de tudo, que se tornam formigas tão parecidas, tão semelhantes, que pouca diferença faz olhar para uma ou para outra.
Praticamente todas elas trabalham o inverno inteiro e, ao fim, as operárias sentem-se rainhas: milhares, milhões delas. Todas iguais. Iguais no sofrimento, iguais no gozo..."
Disto isso, Zaratustra fechou os olhos aparentando concentrar-se; uma reflexão precedia um ensinamento.
- "O máximo que estas bestas alcançam é a indiferença. Até nisso são iguais!" Exclamou Zaratustra, que prossegui:
- "Ai de mim! Não me fiz compreender!
Quando disse que sucumbiria a mim mesmo, quis mostrar-lhes que deveriam desejar ser iguais a mim, o que os tornaria totalmente diferentes. Mas não. Néscias e imotivadas rebeldes! Quiseram ser diferentes de mim e das outras e acabaram iguais. Todas juntas... e solitárias. Sem a águia e o leão, até."
- "Varre de teus olhos o sono e tudo o que é míope e cego! Escuta-me também com teus olhos. Minha voz é um remédio até para os cegos de nascença." - esbravejou o monge.
Contudo, lá de baixo, as formigas somente ouviram um estrondo (por mais forte que fosse o som, a mensagem de Zaratustra era inaudível) e, voltando os olhos para o alto, mal enxergavam um sutil ponto em movimento, por isso, ignoravam-no.
- "Se pareço pequeno aos vosso olhos, é porque estais... Bem, vós sabeis o resto, mas de que adianta, se não queres me compreender..."
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