Basta criar a televisão: Rousseau e a (viciada) "vontade geral" reviram-se na mesma tumba
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
É pra rir ou pra chorar?
Outrora escrevia sobre o que Gabriel O Pensador denominou de Masturbação Mental. Agora continuo a apreciar sua obra, mas a partir de outra música sua: É pra rir ou pra chorar?
Em tempos de eleição essa música cai como uma luva às mãos que se sacodem contra o cinismo e a picaretagem que se estabeleceu em nossa política - e não às mãos que se sacodem no carnaval e no resto do ano como se carnaval fosse. Algumas figurinhas carimbadas (mas que também nos carimbam, marcam-nos, como gado) voltam a aparecer na TV ou falar no rádio depois de 04 (quatro) anos de sumiço. Alguns políticos hipócritas poderiam falar: "eu estava trabalhando muito para o progresso de nosso país". Tudo piada (de mau gosto)!!!
E quando falo que é piada provo ao mesmo tempo a ingenuidade e a astúcia do povo brasileiro, pois ao passo em que me coloco na posição daquele que não sabe como reagir à uma piada, também deixo de rir porque algo de perspicaz me impede.
Tal se dá porque a desgraça alheia é sempre motivo de piada, se não fosse, as videocassetadas do Domingão do Faustão não fariam o sucesso que fizeram e fazem. Assim, fica evidente que de um lado o desgraçado chora ou se sente envergonhado pelo erro que comete e que se volta contra ele; e de outro lado está o espectador da cena, que apenas observa e ri.
Com a política alguma coisa de obscuro se opera: sou ator e espectador da mesma cena. Quando um candidato como o "Tiririca" faz graça da política - embora a esteja levando a sério a ponto de construir sua candidatura - asseverando que desconhece que função irá possuir após a sua eventual eleição, ele causa uma vontade de rir. Até aí não há nada de novo - e como precisamos do "novo" em política - , o problema é que simultaneamente o discurso "tiriricano" traz à tona uma tristeza, uma vontade de choro. Choro pela nossa ignorância, que permitiu fazer da política mais um palco de piada, mas de piada sem graça. Sem graça para os eleitores, afinal de contas a desgraça nossa é motivo de riso para os 'nobres' políticos que nos representam.
Destarte, a angústia que nos acomete é certamente decorrente da (pouca) consciência política que possuímos. Ao vermos piadas com os eleitores, ao votarmos em gente que o faz - e a piada não ocorre só com a sátira no horário reservado à propaganda eleitoral, mas a cada vez que o Estado se omite diante das necessidades do povo, a cada vez que a verba destinada à construção de escolas ou hospitais é desviada, etc - , estamos a fazer graça com cada um de nós: contruímos a piada e somos alvo dela. Daí a dúvida: é pra rir ou pra chorar?
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Para largar a masturbação mental: manifesto sobre o "novo"
Há algum tempo estava em mais um dia daqueles sem fazer nada de útil, sentado em frente ao computador da Lan House gastando tempo (e dinheiro) para acessar e-mails, orkut, twitter e outras coisas pouco produtivas. Como a monotonia e o silêncio passaram a me incomodar, comecei a ouvir algumas músicas. Conhecia já várias do Gabriel O Pensador, mas me apareceu como novidade uma canção denominada "Masturbação mental".
O nome era deveras interessante. Parecia uma crítica acerba a ser lançada, ou melhor: cantada, e foi. Tal como fez Warat, utilizo-me de um nome já usado para classificar tal melodia, trata-se ela de uma diatribe contra um homem sentado, um manifesto contra a (burra) mesmice, contra a rotina que faz de nossos corpos verdadeiras estátuas olhando para os próprios pés, como aludiu um dia Boaventura de Sousa Santos.
Seu início é intrigante, há um breve diálogo em que o referido cantor é questionado: ô Gabriel, você tá mudando as suas músicas? Ao que ele responde: Não, eu tô musicando as minhas mudanças! Fiquei animado com o que viria, e meu entusiasmo não foi em vão: fui tomado pela (inteligente) letra de tal canção, de modo que ela passou a ser um hino para mim em vários aspectos. Sua aplicação à vida (e ao Direito, para aqueles que com ele labutam) parece óbvia, acaba por desconstruir velhos conceitos, antigas filosofias e arcaicas posturas dogmáticas e pugna por uma renovação, pelo abandono da repetição. Não obstante, trata-se de uma crítica à razão indolente em sua versão proléptica, expressa, sobretudo neste trecho:
Amanhã não sei.
Bola de cristal nunca funcionou comigo porque eu não consigo fazer tudo sempre igual, a não ser que eu tente.
Só que eu nunca tento, sempre invento um movimento cada vez mais diferente.
(...)
Eu já cansei de ouvir o que eu já cansei de ouvir! 4x
Bola de cristal nunca funcionou comigo porque eu não consigo fazer tudo sempre igual, a não ser que eu tente.
Só que eu nunca tento, sempre invento um movimento cada vez mais diferente.
(...)
Eu já cansei de ouvir o que eu já cansei de ouvir! 4x
Em seguida, surpreende a sinceridade misturada ao vocabulário mais veemente e incomum utilizado, lembrando, ainda que levemente, o grande Bataille com seus palavrões de impacto. Vejam e deleitem-se:
Eu vou gozar, Maria. Eu vou gozar, José.
Eu vou gozar a vida do jeito que eu quiser.
E se eu fizer cagada eu sei lmpar, não vem cagando regra. Na regra que "cê" caga eu vou pisar.
Não vem ditando norma...Pensando bem, tô pensando de outra forma.
Você acha que é loucura, eu acho que é careta.
A vida é muito curta pra ficar nessa punheta.
Eu vou gozar a vida do jeito que eu quiser.
E se eu fizer cagada eu sei lmpar, não vem cagando regra. Na regra que "cê" caga eu vou pisar.
Não vem ditando norma...Pensando bem, tô pensando de outra forma.
Você acha que é loucura, eu acho que é careta.
A vida é muito curta pra ficar nessa punheta.
Pois bem, espero que por mais mal educada que pareça a letra ela possa chamar a atenção de você leitor (e ouvinte) e faça da sua vida uma constante mudança, afeito ao (amoroso pela vida) discurso da impermanência: o discurso do devir.
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